domingo, 11 de abril de 2010

O APARECIMENTO DE GENES MUTADOS E SEU DESTINO

Salvem amigos Canaristas, pesquisando para um novo Artigo sobre História das Mutações de Canários da Terra. localizei  um texto excelente sobre a perpetuação de mutações publicado no AIO e traduzido para o Atualidades Ornitológicas em Abril de 1991. Boa leitura.

O APARECIMENTO DE GENES MUTADOS E SEU DESTINO
Maurice Pomarede - França
Sabemos que os caracteres hereditários de um indivíduo são comandados por genes cujo conjunto é o genótipo. Os genes estão sobre os cromossomos e como esses provêm do pai e da mãe, a cada caráter correspondem, muito geralmente, dois genes que ocupam a mesma posição sobre o cromossomo e que são chamados alelos. Esses alelos podem ser parecidos ou diferentes. Se eles são parecidos, o indivíduo é homozigoto para o caráter que corresponde aos dois alelos; se eles são diferentes, é chamado de heterozigoto.
O macho das aves tendo dois cromossomos sexuais x e a fêmea só um, os genes portados sobre o cromossomo x da fêmea estão presentes num só exemplar. Em todos os outros casos, há necessariamente dois alelos para cada caráter do indivíduo.
Distinguem-se três tipos de genes. Os genes dominantes manifestam-se (diz-se que eles se exprimem) desde que estejam presentes. Os genes recessivos só podem ser expressos apenas se estiverem sós ou ainda em duplo exemplar. Chamam-se genes co- dominantes os genes alelos que se exprimem ao mesmo tempo; deles resulta um caráter intermediário; diz-se que existe co-dominância ou dominância intermediária.
O aspecto dum indivíduo, ou fenótipo, resulta de seus genes dominantes e co-dominantes e também de seus genes recessivos presentes em duplo exemplar. Os genes que não se exprimem são chamados ocultos; este é o caso dos genes recessivos que são dominados ou inibidos pelo alelo.
APARECIMENTO DE GENES MUTADOS
Quando uma célula se divide, seus cromossomos se partem ao comprido, de maneira a dar cromossomos-filhos perfeitamente idênticos. Mas acidentes podem ocorrer uma vez que a operação é delicada. Estes acidentes se traduzem freqüentemente pela alteração de um gene; ele se encontra então substituído por um outro tendo a mesma posição, porém tendo uma ação diferente; este novo gene é o alelo mutado do gene inicial.
O que ele vai causar? Se o alelo mutado é dominante, um caráter novo aparece, tendo-se então uma mutação, isto é, um indivíduo novo, que poderá ser diferente em sua cor, sua forma, etc. Se o alelo mutado é co-dominante, um caráter será modificado e, por exemplo, uma mistura de vermelho e de amarelo dará uma cor alaranjada. Porém, se o alelo mutado for recessivo, ele não passará nada e o indivíduo será somente portador de um caráter novo sem expressar-se enquanto o gene inicial o domine.
Este alelo mutado poderá passar de uma geração para outra sem se exprimir. Somente no momento em que dois indivíduos portadores do alelo recessivo se cruzarem é que a mutação se manifestará. O aparecimento de um indivíduo novo pode então ter lugar logo após a mutação de um gene.
A probabilidade para um gene ser mutado em seu alelo é muito pequena. Ela depende da posição do gene sobre o cromossomo; alguns genes são mutados mais freqüentemente que outros (1 para 100.000) e, por conseguinte, algumas mutações são mais freqüentes que outras, como o desaparecimento local da melanina ou sua mudança por uma melanina marrom. Porém, como os genes são mais numerosos, há um número bastante elevado de indivíduos que nascem com um gene mutado; este gene não é o mesmo para todos. Em laboratório, tem-se constatado que na drosófila, a proporção de indivíduos que nascem com um gene mutado situa-se entre 2 e 3%. Por conseguinte, há numa população um número elevado de indivíduos heterozigotos para um grande número de caracteres..
NA NATUREZA, as populações são muito importantes, feitas de milhares ou milhões de aves. Quando um gene A é mutado em seu alelo a, tem-se um indivíduo Aa que cruzando com um indivíduo AA vai dar 50% de indivíduos Aa e 50% de indivíduos AA. Mas os indivíduos Aa têm grande chance de reencontrar ainda indivíduos AA. Finalmente, o número de indivíduos Aa vai aumentar pouco a pouco, depois cada vez mais lentamente, em seguida o número de AA diminui. Resulta que quando um alelo mutado aparece ele se distribui na população e pode atender teoricamente 50% dos indivíduos. Como é o mesmo para todos os alelos mutados, pode-se dizer que numa população há apenas genótipos diferentes, a população sendo então heterozigota para a maior parte dos caracteres.. Mas como todos os indivíduos pertencem à mesma espécie, eles têm, em comum, os genes dominantes que comandam o fenótipo da espécie.
Pode acontecer excepcionalmente que dois indivíduos Aa se cruzem; isto vai fazer aparecer uns mutantes aa (25% de aa, 25% de AA e 50% Aa). Os mutantes aa podem fazer linhagem apenas se eles se cruzarem com indivíduos Aa ou aa. Porém, como os indivíduos AA são os mais numerosos e freqüentemente a seleção natural os elimina, eles desaparecem.
É assim que, de tempos em tempos, aparecem na natureza uns indivíduos albinos. Eles desaparecem rápido, quer vítima de predadores, quer porque eles são afastados da população silvestre sem ter procriado.
NA CRIAÇÃO, as populações são pouco numerosas e a consangüinidade aí é freqüente. As aves provêm geralmente de um pequeno número de aves importadas; além disso, para constituir uma linhagem e atender ao padrão, o criador cruza freqüentemente aves aparentadas.
A consangüinidade aumenta consideravelmente as chances de um acasalamento entre dois indivíduos heterozigotos Aa, dando uns mutantes aa, que o criador poderá acasalar com seus pais e assim obter outros mutantes aa.
Enquanto que na natureza o aparecimento de um alelo mutado provoca um aumento do número de heterozigotos Aa, na criação se observa o aparecimento e o aumento dos indivíduos aa e, por conseguinte, o aumento do número de homozigotos.
A análise de uma F2 mostra que na criação, o aumento do número de mutantes se faz às custas do número de heterozigotos Aa. Com efeito, o cruzamento AA x Aa dá indivíduos AA e Aa que se podem cruzar de muitas maneiras diferentes:
AA= 25% 50% 50% 100% = 225
Aa= 50% 50% 50% = 150
aa= 25% = 25 indivíduos sobre 400
Cada vez que dois alelos diferentes são trocados por dois alelos idênticos, o número total de diferentes diminui.
A consangüinidade ocasiona, pois, um empobrecimento genético.
Este empobrecimento tem conseqüências sobre a saúde das aves. A resistência às doenças depende de um conjunto de genes (sistema imunitário HLA) e ela é favorecida por um amplo leque de genes diferentes. Quando um indivíduo torna-se homozigoto sua resistência diminui. A perda de genes de controle pode provocar uma má qualidade da pena, pode também aí haver diminuição do tamanho.
Uma outra conseqüência concerne à possibilidade de mutações. Ela ocorre muito mais numa criação de indivíduos heterozigotos. Pode-se então esperar-se obter numerosas mutações diferentes, graças aos cruzamentos em consangüinidade.
CONSEQÜÊNCIAS
A criação de um número pouco importante de aves, em consangüinidade, permite o aparecimento de mutações correspondentes aos genes mutados presentes na criação. Porém o empobrecimento genético que se produz enfraquece a raça e sua capacidade de dar aves com caracteres novos ou melhorados.
É, pois, indispensável se introduzir, de tempos em tempos, novas aves na criação. Para que estas produzam genes novos, devem provir de criações tão afastadas quanto possível ou, ainda, de uma população silvestre.
As populações silvestres, muito ricas em heterozigotos, são uma importante fonte de mutações, porém, para as ver aparecer, é preciso criar em consangüinidade as aves tiradas da natureza e selecioná-las. Na falta de se dispor de uma população silvestre, é preciso se utilizar de um número elevado de aves, deixando-as se acasalar com toda a liberdade; isso vai provocar um grande número de heterozigotos graças ao aparecimento natural de alelos mutados. A seguir, deve-se tirá- las daquela população maior e criá-las em consangüinidade.
No momento em que um país tenha importantes criações (várias dezenas de milhares de aves) e de numerosos criadores que comprem aves nessas criações, todas as condições estão preenchidas para que numerosas mutações e muitas variedades novas apareçam. Atualmente a Bélgica e a Holanda são celeiros de mutações novas, especialmente de diamante de Gould, diamante mandarim, codorna da China, etc. Ocorreu o mesmo na França para o periquito ondulado onde, em 1914, um só criadouro (Bastide) tinha mais de 120.000 aves.
O conhecimento da genética é indispensável para conservar e tirar o melhor proveito das mutações, criando-se novas variedades.
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